Friday, June 11, 2010

Barragem das glândulas lacrimais


Chorei, ao fim de cinco anos, chorei tanto que foi como se as barragens de um rio tivessem rebentado. Chorei por amor perdido, por amizades acabadas, por ódios infundados, pelas cadeiras a que chumbei e pela minha dificuldade em ser aceite na realidade do mundo. Vi, recentemente, num filme uma rapariga a perguntar a outra onde é que ela vivia. A resposta foi esta: “Vivo principalmente na minha cabeça”. Sinto-me assim, vivo principalmente na minha cabeça e quando vou lá para fora, para o absurdo mundo real, custa-me ter que estar com mais do que uma pessoa de cada vez, e de me tentar “normalizar”. Continuo dentro da minha bolha, neste meu mundinho seguro, que me conseguiu impedir de chorar durante cinco anos seguidos.

E ouço-te agora dizer que sou a única pessoa de quem podes gostar sem ter, que não existe para ti nenhuma necessidade de me teres ou tocares. Sou o quê? Um daqueles seres translúcidos de um filme de ficção cientifica futurista? Pois, ahh, tens razão, sou irreal não é? Uma vez que não existo na realidade do teu dia a dia, deves, muito provavelmente, ter toda a razão.

Porque não tenho perfil de donzela em apuros, e porque apenas deixo o meu cabelo crescer por causa da preguiça de ter de o cortar e porque sinto a minha mente a derreter, vejo o chão a fugir debaixo dos meus pés. E pensava eu, no meio de divagações infantis, que iria ser freira, ou tornar-me em alguém que realmente faria diferença neste mundo real. Agora rio-me, por entre as lágrimas, ai este estúpido rebentamento da barragem das minhas glândulas lacrimais, e sinto-me ridícula enquanto a minha face vai ficando cada vez mais avermelhada do embaraço. Ao menos, serve-me o consolo de ser um embaraço não testemunhado.

E perdi-me. Já se sabe que os meus pensamentos são incoerentes, termino-os na mente e não vou a tempo de os passar para o papel de um bloco de notas que me custou 50 cêntimos na papelaria mais próxima. E lá vou eu pela ruas, a anotar o que me interessa e mesmo o que me desinteressa, na busca incessante de uma ideia que me acalme a mente e alma. Que, lá bem no fundo, se calhar nem são duas coisas distintas.

Mas como estou para aqui a cuspir o meu coração, num perfeito texto sem alicerces, decido parar antes que as minhas próximas palavras se assemelhem aos meus gritos mentais que por mais que os tente abafar, há sempre aqueles furinhos que fazem com que o som interior tente romper por entre as inexistentes frinchas do meu crânio.

Texto por: Snow White
(Imagem de João Ruas)

5 comments:

Anonymous said...

Porquê todo este barulho que me rodeia? Preciso de silêncio e menos, muito menos gritos histéricos. Apetece-me gritar mas falha-me a voz. Esqueci-me com o tempo como me posso exprimir, logo como posso exigir que seja compreendido? E para quê nos entenderem? É necessário? É suposto olharem para nós e saber o que somos, o que fomos?
Há coisas que devia explicar melhor, sempre me consegui relacionar pelas palavras. Essas ninguém as nega.
Vivo rodeado de paradoxos. Sei o que tenho e o que quero, mas recuso-me no meu interior a aceitar a probabilidade das circunstâncias.

E lá está o barulho de novo....volta do barulho de fundo...sempre aquele barulho...

Provavelmente ficaria aborrecido no meio do nada, sem nada...mas é exactamente lá onde quero estar. Quero-me aborrecer por algo que de facto é aborrecido.

Não disse nada porque nada tenho a dizer. Não consigo pensar com o barulho...

Snow said...

Um comment melhor que o próprio Post =]
Não, não é suposto olharem para nós e saberem o que somos ou o que fomos, só acaba por ser suposto serem feitas suposições erradas e as vezes, quem sabe, certas.

Obrigada pelo comment, gostei bastante.

jasonbob said...

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