Wednesday, June 9, 2010

E se me desse para escrever uma história...

Daquelas que se lêem tão depressa como se esquecem, começaria assim:

Levantei-me da cama e sentei-me numa cadeira a olhar lá para fora pela janela do meu quarto. Acendi um cigarro, que depois de uma passa, deixei esquecido no cinzeiro. A chuva tinha recomeçado a cair, o mês de Junho avançava sem um único dia de sol. Suspirei enquanto observava o meu cigarro extinguir-se. Mente em branco, silêncio quebrado apenas pelo movimento de lençóis numa cama que ainda tinha o meu calor. Sentei-me no chão, perto de ti, com o meu rosto quase colado ao teu.
- Que se passa? Não consegues dormir? – a voz suave dela arrancou-me do meu momento de solidão.
- Não quero dormir mais, já é de manhã. Devias levantar-te e sair comigo.
- Nem pensar, vou dormir todos os momentos livres que tiver na minha vida, – e tendo dito isto cobriu-se completamente com os cobertores. – Acorda-me só se tiveres vontade de foder.
Levantei-me do chão onde estava sentada e contemplei, em completa adoração, os longos fios de cabelo ruivo em desalinho teimosamente fora dos cobertores. Os olhos dela encontraram os meus, restos de maquilhagem faziam-se notar com a primeira luz matinal. Ela sorriu enquanto me puxava para a cama. Não falamos enquanto tínhamos sexo pela terceira vez.
A manhã já ia a meio quando ambas nos levantamos. Ângela, era esse o nome dela, vestia-se sem pressas, enquanto eu acendia mais um cigarro que não pretendia realmente fumar.
- Fazias melhor em queimar incenso em vez dos meus cigarros. – e sorriu enquanto pintava os olhos. Completara trinta anos no mês passado mas não aparentava mais de vinte e cinco. Trabalhava desde os dezoito como bartender e o seu pequeno almoço e jantar consistiam em cafés duplos. Estava noiva há mais de um ano com o dono do bar onde trabalhava mas, mesmo assim, há cerca de dois meses que dormíamos juntas uma ou duas vezes por semana. Nunca tinha dormido com uma mulher antes dela. O resultado final é o mesmo de quando se tem sexo com um homem. Vou completar vinte e sete anos no fim deste ano e por esta altura já abandonei completamente a ideia de romance. Sexo resulta com qualquer pessoa que te consiga estimular fisicamente e cada vez que o faço a sensação é sempre a mesma, nunca melhor ou pior, um relaxamento físico necessário para não enlouquecer. Nunca desejei ninguém em particular. Não preciso de outro ser humano a meu lado, sinto-me completa, por isso duvido que encontre a minha outra metade um dia ao virar da esquina.
Ela saiu apressada depois de um beijo que considerei excessivamente longo. Sinceramente, a melhor parte, aquela que me deixa realmente aliviada, é quando a pessoa com quem acabei de dormir se vai embora.


E seria qualquer coisa assim, não sei, de certeza que precisaria de pensar mais e de escolher nomes. Mas e o tom Noir? Onde é que ele está? Queria algo mais parecido como as imagens sensuais dos filmes de Kar Wai Wong.

Texto por: Snow White

1 comments:

euexisto said...

tu até és fixe, mas és demasiado culta para mim.

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