Thursday, July 27, 2017

Vai dormir

Quem diria que com o passar do tempo o coração se podia tornar em borracha, duro como uma sola de sapato de inverno? A vida transita, ridícula, sem grandes eventos, sem grandes invejas, sem ciúme, é agora um autêntico bolo de resignação com uma réstia de inocência presa na garganta. A resignação é às vezes difícil de engolir. Lembro-me de pensar, há muitos anos atrás, “este é o melhor ano da minha vida, não vou ter outro igual” e não tive, os sonhos deram então lugar a insónias.

Wednesday, March 15, 2017

31/9

E se começássemos por ir tomar um café? Não como faz o Luke Cage, mas um a sério, daqueles altos que têm pouca cafeína e são bem doces? Bem assexuados. Dos que me deixam bem disposta? E rir-me o dia todo contigo? Eu gostava disso. Fiquei com mais rugas à volta dos lábios de tanto me rir contigo/por tua causa.

Passear pelas ruas do Porto, sem telemóvel e sem horas. Havemos de tirar fotografias. De cara lavada, sabes que eu prefiro assim. Vamos avermelhar o cabelo com o sol e falar de coisas que interessam. Nada de dietas nem de pretensiosismos, fala-me de coisas simples que eu estou farta de ler livros complicados. Vamos depois adotar os cães de olhos tristes que tu bem sabes que ando a precisar de criar família. Idealizar, tentar outra vez, ver a realidade, ai essas pequenas mentiras gordas que quebram afectos. Mas vamos rir-nos disso, outra vez, porque deu trabalho chegar até aqui. E agora sabes bem que envelheci, não envelheci bem desculpa-me. Aconteceu assim, quase de um dia para o outro.

Friday, September 16, 2016

O futuro chegou sem eu dar por ele

Hoje ao regressar a casa, cansada e mais abatida que o costume, lembrei-me deste poema ao evitar pisar as rachaduras do passeio (não vá o diabo tecê-las e deixar-me com a língua entorpecida).

 

Gostava de me conseguir lembrar de como é que me sentia aos 24 quando comecei este blog mas parece que já me esqueci. Este ano passou como um de gente adulta, foi o primeiro.

Tuesday, March 1, 2016

Johnny

rita hayworth film 1946 gilda glenn ford

rita hayworth film 1946 gilda glenn ford

rita hayworth gilda film 1946 glenn ford

film rita hayworth 1946 gilda glenn ford

rita hayworth film 1946 gilda glenn ford

i hate you rita hayworth 1946 gilda film


Gilda (1946)

Sunday, December 27, 2015

Oh baby with your pretty face

Há noites que são mais longas do que outras. Um desfecho dorido às vezes não sara mais depressa só porque se muda a ligadura que se colou à ferida. E é isto. Os velhos ficam mais velhos e os novos acham-se velhos. Vestem então, com pouca dignidade, a pele de velhos. Tempos modernos, dizem os que não sabem melhor. E eu olho por ti. Meu amor, meu homem criança. Um velho com pele de jovem. Diz lá, o que te vai na cabeça? Ostentas com tanto orgulho essa barba ruiva de traquinas e esses olhos tristes de cão, bem-amados por quem te quis bem. “São verdes-floresta”, diz ele a rir-se com os dentes curtos à mostra. Belos dentes de ex-fumador. Vejo-o a rejuvenescer de dia para dia. “Nem vinte anos lhe dão”. É outra vez um menino, puro com lábios de morango. E eu vou tendo saudades dele, arrependo-me das saudades e penso nos dias que virão. Melhores dias virão, dizem novamente aqueles que não sabem melhor. 

Wednesday, September 16, 2015

Sr. Edmundo

O Sr. Edmundo tinha uma boneca. Daquelas de trapo com uma cabeça de porcelana. Era já um homem velho mas sempre que era avistado estava bem acompanhado da dita. Já todos se tinham habituado ao espectáculo pacato que os dois representavam. As crianças fizeram-se gente e desta gente nova brotaram outras crianças. A vila habituou-se ao Sr. Edmundo e agora quando lhe perguntavam pela saúde não se esqueciam de perguntar também pela da boneca. 

Apaixonou-se pela pequena quando ainda era rapaz novo, já naquela altura se comportava como um verdadeiro cavalheiro, e nunca deixou de olhar para aquela representação de gente com o mais nobre dos intentos. A irmã do Sr. Edmundo, uma perfeita tirana, deixava o inanimado ser em tudo quanto era sítio, até mesmo nas escadas, onde ocasionalmente a pobre coitada era pisada pela Mãe e arremessada para longe. O Sr. Edmundo, como qualquer outro homem enamorado, sofria com o tratamento destinado à boneca, até que um dia, coberto de vergonha mas cheio de coragem foi reclamá-la como sua ao quarto da irmã. Já foi tarde e não pôde salvar a pequena de um corte de cabelo que muito a desfigurou. Resgatou a boneca dos braços tiranos e infantis que a agarravam e tratou aquele infortúnio como se nada fosse pois o Sr. Edmundo não era "um daqueles sujeitos que só ligam às aparências".

Os homens da vila quando se zangavam com as suas mulheres e iam todos esbaforidos para o café comentavam alto entre eles que quem está bem “é o Sr. Edmundo, que tem uma boneca para companheira” e a isto o Sr. Edmundo sorria o seu sorriso calmo e segredava baixinho, numa voz que só a sua companheira ouvia, o quanto às vezes lhe custava que a cara de porcelana dela fosse tão fria.

Tuesday, September 1, 2015

Are you a good boy?


Às 4 da madrugada de uma segunda-feira decidi ver um filme iraniano de vampiros.

Sunday, May 31, 2015

Saturday, April 25, 2015

Related Posts with Thumbnails