Tuesday, June 8, 2010

Caminhos


(Hope you'll learn Portuguese one of these days =p)


Quando te disse que tinhas um pequeno pedaço do meu pequeno coração e te vi sorrir, como se eu estivesse a brincar contigo, senti-o a diminuir ainda mais. O que não entendes meu amor? De que duvidas? O que te faz sorrir das palavras que me custam tanto a juntar e a declarar? Passo os meus dedos pelo teu rosto e fecho os teus olhos, vou olhar para ti sem sentir o teu olhar de volta. Assim é mais real, assim estamos ambos mais perto da nossa própria verdade. Aproximo-me mais de ti, a proximidade física é curiosa, a minha pele pode tocar a tua, o meu corpo pode-se unir com o teu e, mesmo assim, sentir-te como se estivesses a quilómetros de distância, parado num tempo em que eu não existia. O que ficou de ti? Que pedaços teus andei a apanhar este tempo todo? Recriaste-te ou tentas voltar ao que eras a todas as horas que passam?

Suspiro enquanto me deito na areia fria da praia numa manhã de Outono. Um acto espontâneo tomado a meio de uma madrugada sem sono, sem sons e sem pensamentos profundos. Não pensei que um acto tão banal me pudesse por no teu caminho, não me ocorreu que, por momentos, fosse o vento o causador do meu rosto se voltar para o teu no meu caminho de volta para a minha própria vida. Não te destacaste na multidão de pessoas que se iam acumulando, não tiveste nenhuma atitude especial, nem me chamaste a atenção pela tua aparência desajeitada e barba por fazer, mas os nossos olhos cruzaram-se. E não, não senti o meu coração bater mais depressa por isso, e nem retribui ao teu sorriso. Pergunto-me hoje, porque é que só agora essas recordações despertam uma desordem de emoções que não consigo ordenar?

Sentaste-te a meu lado, no comboio que ia na direcção oposta ao comboio em que vai o resto do mundo. Voltei então a cruzar o meu olhar com o teu. Estávamos sozinhos a caminho de um mesmo destino. Se eu soubesse quem tu eras e que qual era o teu Eu nessa altura não teria saído na estação em que saí. Sairia contigo.

Voltei a ver-te tarde demais, fizeste a barba e cortaste o cabelo. Eu ia acompanhada pelo meu homem perfeito, mas era para ti que eu olhava e eram os escassos minutos em que tinhas passado pela minha vida que eu relembrava. Foi perturbador. Entrei no comboio que ia na direcção oposta à tua e sei que olhaste para trás. Mas eu, eu nunca olho para trás, e deixei-me rodear por um abraço que não era o teu.

Os teus pulsos tinham cortes invisíveis e o meu coração tinha diminuído de tamanho quando finalmente nos reencontramos. Nenhum de nós sabia reparar o dano um do outro, mas desta vez ficamos juntos e vimos a mesma paisagem no caminho de casa. Só mais tarde me apercebi que os nossos olhos teimavam em não se cruzar mais. Corpo e mente gastos, um afastamento causado por uma proximidade que não aconteceu entre nós. Como algo assim nos pode afastar? Arrependimentos e atitudes impossíveis de se realizarem tomavam conta da minha mente enquanto me deitava contigo na mesma cama.

Mas uma coisa que não entendes, meu amor, é que de mim ainda me restou o meu pequeno coração, quase completamente corrompido, e é a ti que eu ofereço o pequeno pedaço intacto que continua a pulsar desesperadamente e, irremediavelmente, a procurar os pedaços perdidos do teu. Aceita-o.



Escrito já ha bastante tempo.


Texto por: Snow White
(A imagem que usei para este texto é a Two roads in a yellow wood Painting by Alexander Bukhanov)

2 comments:

Angelus said...

Só me vem uma palavra à cabeça.
Fantástico

Anonymous said...

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