Tuesday, March 20, 2012

Mais uma noite daquelas


Hoje senti urgência em escrever. Vou tentar apressar-me antes que ela desapareça. Escrever já não me acalma como devia, mas aqui vai:

- Queres ir beber um copo? - Pergunto eu enquanto escovo o cabelo em frente ao espelho.

Enfadado e meio ébrio, ele returque irritado.

- Já viste como é que eu estou? Queres dar cabo de mim?
- Sim. É esse o meu objectivo. Veste as calças e vamos. Gosto de te ver a conduzir bêbado.

E ele ri-se, com aquele sorriso trocista que tanto o caracteriza. Nunca falha em me acelerar o coração. Maldito.

- Como queiras. E ainda não estou exactamente bêbado.
- Eu sei que não.

Mas conduz como um louco, o que vale é que a distância a percorrer é curta. Escolho propositadamente a mesa mais longe do bar e quando ele chega ao fim do primeiro copo de whisky peço logo para que lhe tragam um segundo. Começa finalmente a falar enquanto enrola o primeiro dos últimos cigarros da noite, tem cismado com Sartre e eu gosto de o ouvir. Diz-me que gostou especialmente d”A Nausea” e debaixo daquelas luzes amareladas eu gosto especialmente dele. Mas nunca li Sartre, nem quero ler, senão ele não teria tanto para dizer nem eu tanto para ouvir. Rejuvenesce quando fala do que gosta e a ternura que isso me suscita é demasiado forte para ser contida por isso toco-lhe no joelho. Vou-me sentindo mais segura à medida que a noite avança. A timidez vai sendo disfarçada e escondida e aos poucos vamos ficando mais próximos um do outro. 

E assim ele vai-me parecendo menos um gigante e mais apenas um homem. Levo-o para casa, deito-o na cama e ele abraça-se a mim. Só quando está bêbado é que me abraça com força.

- Sabes, é difícil fazer-te feliz. Mas eu estou a tentar, tu sabes que estou a tentar não sabes? E estou disposto a continuar a tentar.

Então deixo-o adormecer, sem me conseguir mexer debaixo do peso dos braços e pernas dele. Lá acabo por o conseguir beijar enquanto me rio silenciosamente daquela expressão de inocente perdido que ele exibe sempre que adormece.

5 comments:

Muiriath said...

Hum ok fiquei curioso numa cena eu depois tenho que te perguntar sobre a sensacao que tive ao ler ^^

Snow said...

Ai sim? hehe

*

euexisto said...

:) bonito

Snow said...

obrigada :]

Alexandre Severo said...

«Nunca mais estarei sozinho, meu caro senhor, nunca mais.»
«Ah, conhece então muita gente?», digo eu.
Ele sorri e imediatamente me apercebo da minha ingenuidade:« Quero dizer que deixei de me sentir sozinho. Mas é claro, meu caro senhor, que não é necessário, para isso, estar acompanhado.»

Jean Paul Satre A Náusea

Whiskey,Satre,cama,entrega, ...parece uma noite repleta de momentos perfeitos;

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