Saturday, December 21, 2013

Dá-me lume

        O homem carrega no coração a delicadeza de um refinado whisky. 20 anos diz ele. Toldado e elegante, com o penteado perfeito e um branco de dentes imaculado recita a mesma lenga lenga amorosa a cada requintada bimba que lhe retribui o sorriso. O analisador de almas carrega no seu semblante o porte de revolucionário, é Napoleão e Álvaro cunhal. Pousa delicadamente o copo no balcão e aproxima-se da mulher de vestido curto. Sabe o que quer e sabe que pode. Sexo incompleto até ao primeiro beijo com a próxima alma aberta. Ninguém o ridiculariza a não ser ele próprio, em curtos intervalos de tempo. É tudo justificado aos olhos da plebe. A mulher que odeia homens desdenha-o. Ranço, vestígio de homem oxidado, cor de dentes polida, cheiro de tabaco num hálito platinado a muito custo. Mas ele sabe que consegue. Um homem que já foi de muitas generaliza, não perde tempo e afaga o relógio de pulso, presente da namorada que queria que ele fosse mais. E ele é mais, mais que todos, porque a mulher que odeia homens o leva para cama. É o mal das mulheres que odeiam homens, precisam de gravar razões renováveis no peito a ferro e fogo para manter o ódio a fluir. O vício de amargura perdura e prospera na sua mesquinhez. Triste moldura. O resto é gente.

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