- Hey…
- Para onde vais apanhar o comboio hoje?
- Para 1900.
- O quê? Outra vez? Conheceste lá alguém?
- Sim e não.
- Ou é uma coisa ou é outra.
- Sim
porque já o vi e Não porque ainda não
lhe falei.
- Lá estás tu com tecnicidades.
E,
dito isto, o homem baixo e sisudo saltou do parapeito de uma janela alta e
ferrugenta. Na janela ao lado, igualmente ferrugenta e alta estava a mulher que
pretendia apanhar o comboio para 1900. Atenta e com os olhos semicerrados
devido ao excesso de vapor expelido pelas chaminés das locomotivas que não
paravam de passar, esta forçava a vista por detrás dos óculos de metal para conseguir
identificar qual a carruagem pretendida. Os comboios passavam rapidamente e
todos eles tinham várias aberturas no tecto e junto destas estavam inscritas de
forma elaborada e dourada as décadas para as quais abriam caminho. A mulher
puxou o elástico dos óculos para os ajeitar melhor à cara e, enquanto ajeitava
também o corpete e inspirava fundo, saltou.
E enquanto caía, apenas se lembrava
de pensar, pela centésima vez: Devia ter
apanhado o zepelim.
E o que ela pensou muitas outras também
pensam. Viaje confortavelmente de zepelim,
onde apenas tem de subir uma elegante escadaria de cobre e sentar-se no lugar
que as nossas hospedeiras lhe indicarem. O seu romance não tem de ser
conturbado para ser memorável.
Air Zeppelin
1 comments:
Só memorizamos o que tem significado... Gostei.Escreve mais.
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