Uma loucura de tamanho ainda indeterminado começa a tomar forma na cave do Cibernauta mas, como ele não tira os olhos da frente do computador, nem a vê. Cresceu a ver Tron e pensa que é uma questão de tempo até conseguir passar para o outro lado, para o “Ciberespaço”, porque só pode ser uma questão de tempo até ele se misturar com o cérebro inventado e coerente de uma motherboard.
Ele fala português, inglês e klingon, ama a Mulher Maravilha e tenta ver o dia a dia, o complexo mundo exterior, como um mau filme em 3D. É inteligente e dança ao som de Kraftwerk num laboratório repleto de CPUs, network cards e modems. Não esquece o passado e guarda com carinho as obsoletas floopy drives em várias gavetas etiquetadas com nomes de diversas experiências falhadas. As ilusões são como açúcar mental, e um corpo dissolvido cabe em qualquer lado.
O Cibernauta só precisa de um fio condutor e da fonte de energia adequada. A evolução não tem limites definidos e a massa cerebral humana actualmente ocupa apenas 2% do peso total do corpo.
Aos poucos ele vai-se dissolvendo. 2% da matéria constituinte do Cibernauta diluem-se numa solução electrolítica. Ele pensa em ficheiros zip e inclui todas as firewalls que existem actualmente na sua lista de inimigos.
O portal USB, a entrada para a Cibercidade, reconhece o Cibernauta como parte integrante da sua crescente e fiel comunidade, sem formas, sem sexos, detentores de toda a informação existente no mundo.
E, pela primeira vez na vida, ele relaxa, sente o corpo que não possui mais, descartado algures numa cave já esquecida, a expandir-se e a saborear cada sorvo de electricidade. Aos poucos, o Cibernauta viaja através de ondas magnéticas e percepciona o dia a dia protegido num descomplexo mundo interior.
Evolução classificada como vírus.
Por: (Sleepy) Snow White