Spring cleaning
Desta vez nem o desktop está organizado.
Friday, April 20, 2012
Saturday, April 14, 2012
Perdi a cabeça
Ainda não sei bem como, ou porque, mas
parece que andei meses a fio com o cérebro a escorrer-me pelas
orelhas abaixo. É que nem dei conta dos
neurónios a cair. Simplesmente foram-se. Estava a fazer chá e
acho que o temperei com eles (daí o sabor azedo). E assim,
misturados com bolachas de água e sal, reintroduzi-os novamente no
organismo. Tornaram-se no petisco do dia que a corrente sanguínea
decidiu levar a dar uma volta. E onde foram eles parar? E logo num
respeitável aglomerado?
Exactamente.
Ao coração, que (coitado) não sabe o
que fazer deles. Atrapalhado, não tem outro remédio senão começar a bombeá-los ao acaso enquanto tenta adivinhar
onde raios é que é suposto aquela semi-suculenta (pois o coração
por vezes julga-se canibal) massa pertencer.
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Só porque sim
Tuesday, April 10, 2012
Saturday, April 7, 2012
Rascunho (ou tpc)
Ela pega no batom cinzento e pinta os lábios. Completamente indistintos do resto da sua pessoa e imperceptíveis a olho nu. Ahh, mas ela gostava do gesto, daquele pequeno e imprescindível ritual. E, satisfeita com o seu aspecto cinzento, ela sai de casa e funde-se com o resto do mundo. Engolida pelos edifícios e cravada no chão das ruas a Sombra caminha, inconsciente da sua inconsciência e satisfeita em tornar-se uma só com as outras sombras. A simplicidade de uma comunhão com o único mundo que alguma vez conheceu preenche-a. Porque não precisa de mais, porque não sabe de mais. Tudo o que tem lhe chega. Não anseia por aquilo que não consegue percepcionar. Assim, ela não tem noção da importância de cores que não vê.
Nada é mais real do que a sua secretária cinzenta que se une na perfeição com os seus braços enquanto escreve em folhas que não consegue ler. Imersa num mundo cheio de diferentes tonalidades da mesma cor ela sente-se satisfeita com as escolhas que acredita ter tomado.
Mas, por vezes, quando desaparece ou se torna imperceptível no negro que a apaga, a Sombra treme e movimenta-se sem ser vista. Busca-se a si própria sem nunca ser bem sucedida em se encontrar. Então resigna-se no que sabe. No seu limitado conhecimento do mundo dependente de luz e formas para existir. E quando a luz a reaviva novamente, ela renasce nos seus limitados contornos e continua os seus afazeres, completamente inconsciente de que a vida que vive não lhe pertence.
Na sua simplicidade não sabe que não passa de uma sombra no mundo das sombras.
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Só porque sim
De modo nenhum
Porque a minha adoração não é completa, ou sequer coerente, por vezes vejo-me forçada a limitar-me ao tão desvalorizado silêncio. Assim, quando tento realmente falar, não tenho as palavras comigo. Sinto a sensação de insuficiência a abalar todos os meus frágeis alicerces e cinjo-me à merecida crueldade proeminente na visão dele e dos outros. Então penso “tenho de me ir embora” mas a falta de concentração mantém-me presa ao mesmo sítio. Distraio-me com facilidade. É irremediável, está tudo perdido, há sempre alguém com uma adoração mais palpável que a minha. Vou-me sentindo a envelhecer a cada dia que passa, o coração vai ficando mais fraco e incapaz e é em vão que tento procurar o caminho de volta. Mas sou (por vezes) teimosa, então, enquanto a carcaça existir eu tento inventar palavras mágicas ou rituais que a possam reavivar. E lá penso (mais uma vez) "Quem sabe, não é?"
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