Há noites que são mais longas do que outras. Um desfecho
dorido às vezes não sara mais depressa só porque se muda a ligadura que se
colou à ferida. E é isto. Os velhos ficam mais velhos e os novos acham-se
velhos. Vestem então, com pouca dignidade, a pele de velhos. Tempos modernos,
dizem os que não sabem melhor. E eu olho por ti. Meu amor, meu homem criança.
Um velho com pele de jovem. Diz lá, o que te vai na cabeça? Ostentas com tanto
orgulho essa barba ruiva de traquinas e esses olhos tristes de cão, bem-amados
por quem te quis bem. “São verdes-floresta”, diz ele a rir-se com os dentes
curtos à mostra. Belos dentes de ex-fumador. Vejo-o a rejuvenescer de dia para
dia. “Nem vinte anos lhe dão”. É outra
vez um menino, puro com lábios de morango. E eu vou tendo saudades dele, arrependo-me
das saudades e penso nos dias que virão. Melhores dias virão, dizem novamente aqueles
que não sabem melhor.