Nunca deixa de me surpreender a naturalidade com que os acontecimentos se desenrolam em Before Sunrise (Antes do amanhecer).
E sempre que revejo o filme chego constantemente a esta mesma conclusão: o romance morreu nos anos 90.
O romance começou a desintegrar-se com o uso desenfreado de telemóveis, de redes sociais e com a consequente facilidade com que hoje em dia se acede a outra pessoa. É como se fossemos todos livros abertos com pernas a passear pelas ruas. São fomentados relacionamentos efémeros e é promovida uma avaliação superficial (regida pela lei do menor esforço) a uma ou outra pessoa que tenha suscitado interesse ao avaliador.
Mas o pior, na minha opinião, é que tudo isto se passa sem se estar frente a frente, sem serem percepcionados tiques, expressões faciais ou reacções perfeitamente espontâneas. A espontaneidade está por um fio e a impessoalidade impera cada vez mais, disfarçada através de códigos que sugerem, ou inventam, uma proximidade que na realidade não existe.
Isto vindo de uma anti-social até é estranho não é? Mas ser anti-social é como usar o Windows em vez do Linux, apesar de o Linux ser eficaz toda a gente prefere o Windows.
O miúdo estranho vai ser sempre o miúdo estranho por mais que nas BDs e nos filmes ele seja disfarçadamente o miúdo fixe e, esporadicamente, até tenha super-poderes.
Se o Before Sunrise decorresse em 2010, a Céline e o Jesse acabavam como Facebook friends.